sábado, 17 de janeiro de 2015

Somos PÓ

Como homens nunca podemos esquecer esta verdade: Somos pó.

Quando varremos nossas casas ou espanamos nossos móveis lançamos para fora o tão indesejável pó. Ao vermos no final da faxina aquele monte de sujeira na pá, que em breve vai à lixeira, quase nunca, ou mesmo jamais, passa pela nossa mente que somos constituídos pelos mesmos elementos os quais desejamos nos ver livres.

Geralmente nos esquivamos dessa realidade (real fragilidade). Temos uma visão sobremodo elevada de quem nós somos e nos esquecemos dos reais elementos que compõem a nossa matéria. Por mais baixa que seja a nossa estima raramente, ou quase nunca, tomamos consciência de que somos o pó que contaminou a terra e a fez maldita. A soberba é cada vez mais constante e nós buscamos sempre erguer monumentos para si, como fez Saul após vencer os amalequitas (1 Samuel 15).


O pecado sempre é uma falha tentativa de nos elevarmos da condição de pó até a condição de Deus. Como disse a enganadora serpente no Éden: “...no dia em que dela comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal” (Gênesis 3.6). E os nossos olhos foram abertos, assim também nossos corpos foram abertos à corruptibilidade. Tal conhecimento é insuportável à nossa estrutura física. O mal nos faz perecer; nos faz voltar a ser pó; nos descria, pois não fomos criados para conhecê-lo, visto que tal conhecimento trás consigo a nossa destruição. E apesar de termos nos tornado como Deus (conhecedores do bem e do mal), não nos tornamos iguais a Deus que tem o poder inerente ao seu ser de conhecer o mal e até mesmo ordená-lo sem que seja corrompido por ele. Nós, pelo contrário, corrompidos somos, pó somos.

Penetras no jantar de Cristo

     Os momentos de refeição estão entre as situações mais particulares de uma família. Não convidamos qualquer pessoa para comer conosco, apenas os mais chegados se assentam em nossas mesas. Quando desejamos um momento de comunhão entre amigos ou colegas de trabalho geralmente preparamos refeições. De fato esses instantes particulares com convidados seletos nos aproximam e evidenciam a fraternidade que temos uns com os outros.
            No entanto, os jantares e almoços, os quais participamos, também são reveladores. Podemos observar o quanto uma relação social é saudável pelo modo como os envolvidos interagem enquanto se alimentam. Numa família saudável um jantar, mais do que saciar a nossa fome, sacia o nosso desejo de se relacionar com os nos pais, irmãos e agregados. Mas quando alguma coisa vai mal o silêncio, a discórdia e o egoísmo toma conta e não sentimos o real sabor dos alimentos e das relações humanas afetivas que nos satisfazem. Toda aquela alegria vai embora e as diferenças se tornam evidência.
            A ceia da igreja de Corinto revelou ao apóstolo Paulo uma igreja dividida, egoísta e que se ajuntava para pior e não para melhor. Uma igreja onde cada um visava os seus próprios interesses; onde cada um tentava escolher a melhor e maior parte nas refeições, de modo que no seu jantar havia uns que passavam fome, enquanto outros se embriagavam (1 Co 11.21). Por esse motivo Paulo os anuncia: “Quando, pois, vos reunis no mesmo lugar, não é a ceia do Senhor que comeis.” (1 Co 11.20).
            O jantar dos coríntios não representava a família saudável; a igreja sã que se relaciona com Cristo. Pelo contrário, boa parte deles era como penetras no jantar de Cristo. O penetra é aquele que não está interessado no que o anfitrião pensa, ou em se relacionar com os convidados e com os que oferecem aquele momento, mas a única coisa que cabe em seus pensamentos é o seu próprio desejo carnal. A inveja, o egoísmo, a discórdia, a gula, a difamação, a falta de discernimento são partes do seu ser que se evidenciam num momento assim.
            A falta de relacionamento com Deus é a marca de muitas igrejas em nossos dias. Crentes que, como os coríntios, embriagados em seus pecados, se acham no direito de assentar na mesma mesa de Cristo e cear com ele. Crentes que vão ao jantar de Cristo para prestar satisfação aos homens e não pelo desejo de contribuir com a unidade da igreja, muito menos pelo anseio de se tornar mais íntimos de Cristo. Para estes é que Paulo diz, “Não é a ceia do Senhor que comeis”.
Não! Não jantaremos com Cristo, o nosso Senhor, enquanto não aprendermos a discernir quem somos, quem Cristo é, e para que fomos convidados. Somos convidados, não para enchermos a nossa pança de vinho e pão, mas para enchermos a nossa vida com os palavras do Anfitrião que alimentam o nosso ser e preenchem a nossa alma de alegria.

“Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma o pão, e beba do cálice; pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si. Eis a razão por que há entre vós muitos fracos e doentes e não poucos que dormem” (1 Coríntio 28-30).