sábado, 15 de janeiro de 2022

Os Crentes e uma Epidemia em Garanhuns – Um Relato


 Os Crentes e uma Epidemia em Garanhuns – Um Relato

    Temos sempre tendência para achar que as nossas dificuldades são maiores que as dificuldades dos outros, que o chuvisco que atravessamos foi maior que a tempestade que o nosso próximo enfrentou. Achamos que vivemos dias mais difíceis hoje, do que viveram aqueles nossos semelhantes no passado. Certamente vivemos dias conturbados em meio uma crise mundial de saúde, mas não podemos menosprezar os intemperes que nossos irmãos, tempos atrás, viveram. Pelo contrário, devemos aprender com eles através do exemplo de fé, coragem, e amor ao próximo no enfrentamento das crises de seus dias.


    Neste artigo quero contar-lhes um fato ocorrido em 1897. Dez anos antes, em 1887, Garanhuns havia se tornado uma cidade “ponta dos trilhos” com a chegada da ferrovia que possibilitou o escoamento da produção agrícola da região e o aumento da população. Nessa época Garanhuns possuía um território muito maior do que o atual. Como exemplo, os municípios de São Bento do Una e de Canhotinho faziam parte do antigo território de Garanhuns. A cidade tinha sua população predominantemente rural limitando sua população urbana a pouco mais de 5 mil habitantes, 90 por cento dos homens eram analfabetos e não havia hospitais, nem estradas largas e asfaltadas como hoje.
    Em 1895, o Médico e Reverendo presbiteriano George Butler, sua esposa Rena Butler, e seus filhos se estabeleceram em Garanhuns, onde pregaram o evangelho e ao mesmo tempo sofreram grande perseguição. Em 1897, quando Butler havia acabado de retornar de Salvador-BA, onde fora validar seu diploma de medicina, o Doutor se deparou com uma triste situação, uma grande epidemia de febre amarela. O que fazer? Não havia hospitais, remédios adequados ou vacina (a vacina para febre amarela só chegaria em 1937). Ouça agora o que aconteceu, segundo relata o livro A Bíblia e o Bisturi:
“O ano de 1897 foi de terrível angústia e desolação para Garanhuns. Uma nuvem sombria e ameaçadora pairava sobre a cidade. O Dr. Butler e a família mal haviam chegado de Salvador, desabou sobre a população tremenda epidemia de febre amarela.

    Era desolador o estado da cidade. No período em que predominou a epidemia, houve pelo menos 612 vitimas fatais, das quais a maioria era de homens. E há quem diga que morreram mais de 800 pessoas ao todo. Bem se pode imaginar a tristeza e a angústia reinantes.

    Para aquela hora, Deus havia preparado o Dr. Butler. Ele não somente permaneceu na cidade , mas dispôs-se a dar assistência a todos os doentes. Ficou sozinho, até o próprio Padre Pedro Pacífico deixou seus peroquianos, indo para Alagoas. E o Dr. Butler, o herege, se transformou em “anjo”.
 
    Trabalhou com denodo no sentido de minorar as aflições da população, mesmo daqueles que eram seus perseguidores. Dava-lhes remédio e pedia aos crentes que orassem por eles. Quando encontrava uma casa onde ninguém podia prestar socorro aos doentes, nomeava turmas de irmãos para se revezarem e ministrarem os medicamentos. A muitos que não tinham alimento, mandava leite, para que não morressem de fome. E ao meio dia reunia os crentes para orar, pedindo a ajuda divina para a calamitosa tempestade.
    
    Houve uma coisa curiosa, que chamou atenção de todos: nenhum evangélico morreu em consequência da epidemia. Alguns foram atingidos pela doença, mas, uma vez medicados, ficaram bons. Isto criou no Dr. Butler uma convicção profunda da presença de Deus. Chegou a afirmar com toda convicção, que a catástrofe não era para os crentes. E quando tudo passou, quando a vida começou a voltar à normalidade, lembraram as palavras da Escritura: “Ao anoitecer pode vir o choro, mas a alegria vem pela manhã”. (Salmo 30.5)
    A epidemia tornou-se um marco divisório na vida do Dr. Butler. Ele seria o médico com alma de pastor, que amava intensamente as almas, e o pastor com alma de médico, que sentia a aflição do corpo enfermo. As duas atividades eram realizadas a um só tempo. Eram dois trabalhos, duas funções, dois ministérios, com um único propósito – redimir o homem".
Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia de aproxima.” (Hebreus 10.25)
Fontes: Revista Movimentos Sociais e Dinâmicas Espaciais Volume 7, Nº 01. Antonio Benevides SOARES e Adriano Lima TROLEIS. A Expansão Urbana de Garanhuns-PE entre 1811 e 2016 e Suas Implicações Socioambientais. 2018. UFPE. FERREIRA, Edijéce Martins. A Bíblia e o Bisturi. Edição da Missão Presbiteriana no Brasil. 1976 Bíblia Sagrada ARA.

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